domingo, 22 de julho de 2012

Não Patrocine Avenida Brasil

À esquerda: Lúcio (Emiliano D'Avila) e Carminha (Adriana Esteves) ameaçam Nina (Débora Falabella) de morte; à direita, Nina é enterrada viva pela dupla

Assistindo as cenas da Novela Global, Avenida Brasil, neste sábado 20 de julho de 2012, fiquei com um embrulho no estômago como quando assisto a filmes de terror do tipo, “O Albergue”, “O Cativeiro”, “Jogos Mortais”, dentre tantos.

Fiquei com medo confesso, uma mistura de sentimentos me invadiram em rompantes. Raiva de uma, pena de outra, depois ódio, vontade de bater muito na “Carminha”, dá-lhe uma boa surra e dizer-lhe: isso é pra você respeitar o ser humano. Mas também vontade de sacudir a “Nina” e dizer pára, pára com essa vingança, vive e espera que Deus vai cuidar de tudo. Mas também penso se eu estivesse no lugar dela talvez também quisesse vingança, ainda mais depois de tudo isso, de ser enterrada viva, de me cuspir na cara, de me humilhar como se eu não fosse gente. No fim de tudo ficou com raiva do criador, o autor.

A verdade é que muita gente vem ficando chocada com as cenas dessa trama. Em toda novela, podemos perceber que nada parece com o nosso normal, nosso dia normal, sempre tem algo de muito anormal nas famílias, nos problemas, nunca é apenas um chefe durão, é um chefe durão que é assassino ou corrupto, nunca é apenas uma briga de casal, é uma briga por traição, infidelidade com mais de duas ou até três amantes envolvidas, e por ai vai tantos exemplos. Em Avenida Brasil o que mais choca, é a dose em que isso vem sendo explorado. A madrasta não é apenas má com a enteada, não. É uma maldade que afeta o psicológico de quem assiste, onde jogar criancinhas num lixão, matar o cachorro, enterrar a enteada viva e amarrada para lhe causar imenso trauma psicológico e despertar-lhe um ódio e desejo ferino de vigança é normal e desmerecedor de arrependimento. É como se o autor me dissesse que isso aqui perto de mim, que poderia ser o meu vizinho, me tirando a vontade de acreditar no ser humano, na sua capacidade de ser bom e piedoso. Não estou dizendo que aqui fora não aconteçam coisas até piores, estou dizendo que não quero ver isso como forma de entretenimento.

Não basta ao autor explorar a dor de uma mulher ao descobrir a infidelidade do marido, para o ele quanto mais “pimenta” melhor, ou seja, é mais interessante que ele tivesse mais uma família, mais um casamento, e ainda uma terceira amante que fosse cúmplice de suas mentiras, envolvendo ainda os filhos. A situação, um tanto grotesca e, em minha opinião de mulher, insuportável, é tratada de forma cômica e hilariante, como se fosse muito engraçado ser enganada anos a fio por um cafajeste. No meio disso tudo, ainda sendo pouco para o autor, este transforma as mulheres que, outrora eram esposas, agora em amantes e a amante cúmplice em esposa, e os filhos, de forma incrível, não se abalam como qualquer filho na vida real faria, a não ser claro a pré-adolescente. Qualquer filho(a) ao ver sua mãe sofrer uma infidelidade de tal dimensão, no mínimo seria solidário(a) a ela, o que não acontece com esses, ao contrário, apóiam e assistem felizes o terceiro casamento do pai com a amante, que não aconteceu para mais uma cena cômica. Lindo.

Agora vamos falar de algo nada nada confortável na minha humilde opinião que talvez não deva ser considerada, mas, ainda assim me dou o direito de expressar. O antes casal, Murici e Leleco, agora protagonizam cenas que me causam mal-estar em assisti-las ao lado do meu marido, acho pejorativo e nada engraçado quando analiso o todo. Um casal que após 40 anos juntos, amancebam-se cada um com seu par mais jovem e mais bonito e ficam ali esfregando-se um na cara do outro em cenas pitorescas para causar ciuminhos. Sendo que a separação mais uma vez bem típica, foi o envolvimento da personagem Leleco com Tessália, uma jovem de vinte e poucos anos que com sua bela presença conseguiu por fim ao, parecido firme, casamento.

Para não ficar por baixo Murici não ver problema em pôr em sua casa, na cama onde dormia com o marido, um jovem moçoilo cheio de gás para noites calorosas. Para arrematar, o antigo casal tem uma recaída e se entregam ao amor no meio do mato, como dois jovens enfurecidos de desejos, traindo seus atuais companheiros. Logo em seguida, beijam e abraçam os, agora traídos, parceiros como se nada tivesse acontecido. Bizarro.

O escritor, (leia-se aqui todos que fazem parte) quer nos empurrar goela à baixo a crença de que hoje nenhum casamento é real, verdadeiro, sólido e que não vale a pena ser fiel. Mais um exemplo disso é o casamento de Tufão e Carminha, que com tamanha destreza o autor conseguiu por dentro da mesma casa, marido e amante, este por sua vez ainda casado com a irmã de Tufão, ou seja uma mistura nojenta de traição em família que perdura por anos sem sequer ninguém levantar o mínimo de suspeita. Nem ao menos os empregados que sempre sabem dos podres que estão por debaixo do tapete, sonham com esse conluio de Max e Carminha, eles realmente devem ser “ninjas” para em 10 anos nunca sequer ter dado o mínimo de margem para desconfianças, ou então, estou enganada e na verdade são os outros que são cegos e burros tanto quanto for do interesse do autor.

E o que acontece com Nina (Rita) é o que eu chamo de ter estrela na testa, pois no desenrolar da estória, tantas e quantas vezes ela esteve no fio da navalha para ser descoberta e como por um milagre de sorte divina conseguia manter-se em segredo.

Outra coisa que muito me faz rir e me intriga é o talento nato para atuar da frentista e simples garota do lixão, Betânia. Como nós diríamos aqui na vida real: Aquela menina tá se perdendo, deveria está na globo, é uma atriz nata! Porque, atuar como drogada, se passar por Rita, enfrentar o ódio de Carminha e conseguir segurar a máscara sem tremer, sem se perder na conversa, mantendo o segredo de Nina intacto mesmo diante da violência de Carminha, tudo isso sem ter câmeras e diretor não é pra quem quer, é pra quem tem talento e muita técnica de atuação.

Por último, para não me alongar tanto, quero fazer uma pequena observação sobre a personagem Suellen, a periguete preferida da trama. Ela é uma mulher do tipo fácil, que “cede” pra quem quiser, chantagista quando necessário, alpinista social que deseja se dar bem com quem tenha grana para lhe bancar e por último prostituta com direito a cafetão.

Com tudo isso o autor quer, a qualquer custo, que eu acredite que todos aqueles rapazes que a rodeiam querem casar com ela, terem filhos e serem felizes para sempre. O autor realmente acredita na minha burrice e ignorância de telespectadora? É como se ele me dissesse que esse lance de ser boa moça está ultrapassado e que os homens preferem uma periguete para casar à uma moça de família.

Me poupe Sr. Autor. Um rapaz fica e se diverte com as garotas fáceis, que sai com ele e com todos os amigos dele, mas quando ele quer casar, não é esse tipo de mulher que ele procura.

A sociedade ainda é assim, mesmo que o Sr. não acredite. Mas perdoe minha “santa ignorância” eu talvez seja muito “quadrada” para acreditar nisso. No entanto me darei o luxo, nos dias de hoje, onde o maior entretenimento, as novelas, dizem que não, de acreditar no Arrepedimento dos Erros, no Perdão das Ofensas, na Bondade, no Amor no Casamento, na Fidelidade de quem Ama, na Família Tradicional, nos Bons Costumes, na Justiça Divina. Quero acreditar no Ser Humano, acreditar que ele é bom na sua essência e que os bons sempre vencerão os maus, não por vingança, não com a mesma moeda, mas com o dom de ser humano, de ser bondoso, de ser piedoso, de acreditar em Deus, e de saber perdoar.

Se ofendi quem quer que seja, peço logo desculpas, pois moro num país onde se fala em liberdade de expressão mas dizer o que se pensa é motivo para ser processado, preso e julgado culpado por que alguém interpretou mal o sentido da mensagem.

Atenciosamente;

Salamandra Geniosa

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