quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Viver é uma arte

Crônica de Renata Dal-Bó no Diário do Sul/Variedades
Quarta-feira, 29/08/2012, às 06:00


Lendo a coluna de Paulo Coelho no DS deste último final de semana, identifiquei-me com duas revelações feitas por ele: a de que escreveu seu primeiro livro “O Diário de um Mago” aos 40 anos – “quando outros pensavam em se aposentar, eu começava uma nova vida”, conta Paulo.


A outra é quando ele diz que escrever é o seu chamado, algo que faz com toda sua energia e amor. Paulo decidiu se tornar escritor depois de ter feito de tudo na vida. Ele teve muitas dúvidas, com muitas pessoas dizendo que ninguém sobrevive da escrita. “Mas eu achava que não se tratava de sobreviver – tratava-se de viver”, confessa. Assim como Paulo Coelho, realizei o sonho de publicar minhas crônicas aos 40 anos e também acho que escrever é algo mágico, que requer energia e amor.


Nesta mesma semana, ao assistir a minissérie sobre Chiquinha Gonzaga, compositora, pianista e regente brasileira, emocionei-me com a declaração feita por ela sobre o ato de compor. Chiquinha nasceu em 1847 e enfrentou todos os tipos de preconceitos da sociedade moralista da época por querer viver de sua música. Autora de “Ó Abre Alas”, marchinha de sucesso tocada até hoje no carnaval, Chiquinha é considerada a primeira compositora popular do país. Porém, sua trajetória não foi nada fácil, contra tudo e todos Chiquinha não abriu mão de fazer o que mais amava na vida: tocar, compor e reger. Assim como escrever é sinônimo de viver para Paulo Coelho, acredito que para Chiquinha a música também era a sua vida.


Numa cena da minissérie em que Chiquinha Gonzaga dialoga com o grande maestro Carlos Gomes, ela diz que sempre ouviu uma melodia dentro dela, porém, às vezes, não sabia como passá-la para o papel. Carlos Gomes respondeu que todo compositor tinha uma melodia dentro de si, mesmo antes de começar a compor. “Se você sente que está impregnada por essa melodia e deseja fazê-la aflorar, então você é uma artista, você é uma compositora, senão jamais saberia disso”.


Chiquinha, maravilhada com as palavras do maestro e já completamente encantada por ele (e quem não estaria), concorda e acrescenta: “É isso mesmo, um dia essa música sai de uma maneira, outro dia sai de outra. Aparentemente são músicas diferentes, com títulos diferentes, mas no fundo é uma música só”. E o maestro completa: “Mas aquela é a sua música, só sua”. Diante dessas revelações, de um grande escritor e dois grandes músicos, só posso concluir que a vida tem que ser vivida com paixão, não importa a idade e nem o que as outras pessoas pensam. A vida faz sentido quando fazemos aquilo que acreditamos, sempre. Definitivamente, viver (bem) é uma arte.


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